Setembro amarelo: qual a responsabilidade do RH?

DICA

O mês de setembro é marcado pela campanha do setembro amarelo, um mês de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Mas para além disso, o debate sobre saúde mental é parte da agenda e tratando-se de empresas, olhar para saúde mental no trabalho é estar atento ao ativo mais importante do negócio: as pessoas.

No último ano, 2022, 209.124 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, de acordo com o INSS. Entre as doenças de ordem mental, as mais comuns são a ansiedade e depressão. Além disso, o burnout, uma síndrome ligada diretamente ao esgotamento profissional com cada vez mais casos. 

Vários transtornos mentais podem ser desencadeados ou agravados no ambiente de trabalho, por causas diversas que exploraremos neste artigo. Assédio moral, sobrecarga e estresse estão entre as causas comuns.

Afinal, como o RH deve tratar questões de saúde mental na empresa? 

Neste artigo veremos:

  • Qual a importância da saúde mental no ambiente corporativo
  • Fatores que levam a um ambiente de trabalho ruim
  • Transtornos mentais mais comuns e suas características
  • Boas práticas de saúde mental no trabalho
  • Como fazer uma boa campanha de setembro amarelo

Qual a importância da saúde mental no ambiente corporativo?

Preocupar-se com a saúde mental no ambiente de trabalho vai além de lidar com doenças já estabelecidas. Uma vez que a definição de saúde mental da OMS é o estado de bem-estar, pequenas atitudes influenciam para ter ou não um ambiente que proporcione bem estar.

Pensando na saúde mental no ambiente corporativo, ainda que remoto, torná-lo o mais saudável e funcional possível é a melhor forma de prevenção às doenças de ordem mental. Garantir o bem estar nas empresas é imprescindível, dado que os colaboradores passam, muitas vezes, mais tempo trabalhando do que em outras atividades.

 Para as organizações, ter colaboradores saudáveis reduz o turnover, aumenta a reputação do negócio, reduz os afastamentos médicos, além de evitar erros e acidentes de trabalho.

Um bom clima organizacional inspira confiança entre a equipe, companheirismo e identificação com a cultura empresarial. Estar em um ambiente seguro faz com que os colaboradores sejam mais criativos, abertos à feedbacks e proativos. 

Fatores que levam a um ambiente de trabalho ruim

A organização do trabalho em si ou até mesmo a relação entre a equipe e a relação gestores-equipe pode impactar negativamente o clima organizacional. Os fatores mais comuns são: excesso de trabalho, desvalorização do colaborador, assédio moral e bullying.

 No levantamento feita pela pesquisa: Saúde Mental no trabalho, os fatores apontados como de maior impacto positivo no equilíbrio psicológico são: tranquilidade para trabalhar, volume de cobranças de acordo com as horas e função em contrato, trabalhar sem medo, gostar da função que exerce, ambiente sem pressão exacerbada e não estar esgotado. 

Já, pesquisa feita pelo Ministério da saúde, relacionou o sofrimento psíquico gerado nas relações de trabalho com: jornadas longas de trabalho, vivência de acidentes de trabalho traumáticos, comunicação ruim, falta de reconhecimento entre outros. 

A partir destes dois levantamentos, pudemos compreender que de fato o ambiente e as relações de trabalho são os pontos mais importantes ao pensar em saúde mental dentro de empresas. 

Sem tirar a importância do incentivo ao autocuidado e a busca por acompanhamento médico e psicológico. A empresa contribui diretamente com campanhas ou indiretamente    com programas de suporte ou benefícios em saúde. Contudo, junto aos pontos individuais é importante ter atenção às ações corporativas que promovam o bem-estar.

Os dois aspectos unidos dão poder ao colaborador enquanto principal agente da própria saúde mas não isenta a empresa do cuidado com os aspectos corporativos influenciadores do bem estar coletivo.

Transtornos mentais mais comuns e suas características

O top 3 transtornos mentais mais comuns são a ansiedade, a depressão e o burnout. O último é considerado uma doença ocupacional desde Janeiro de 2022. 

1. Burnout 

A principal causa do transtorno de Burnout, chamado também de síndrome do esgotamento profissional, é o excesso de trabalho. Todavia, estar em um ambiente estressante, muito competitivo e com grandes responsabilidades também pode causá-lo.

É caracterizado por exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, dores de cabeça constantes, dificuldade de concentração, insônia e alterações no apetite. 

Mesmo que causada pelo excesso de trabalho, o tratamento envolve uma equipe médica e psicológica, não basta o descanso para recuperação completa.

2. Transtornos de Ansiedade

Assim como no caso da depressão que falaremos a seguir, os transtornos ansiosos são diversos, classificados por diferentes CIDs (Classificação Internacional de doenças). E cada diagnóstico tem sintomas específicos. 

O transtorno mais comum no Brasil é o Transtorno de Ansiedade Generalizada, um distúrbio que provoca preocupações e nervosismo em excesso sem causa aparente. Transtorno do pânico e transtorno obsessivo compulsivo (TOC) são, ainda, outras formas de ansiedade. Todas elas impactam no trabalho e na qualidade de vida do colaborador.

A ansiedade no trabalho pode desencadear-se de alguma situação de estresse ou abuso de poder. Um caso seria: a reação exagerada de um gestor, respondendo de forma rude e/ou elevando a voz desencadeia crises ansiosas em um funcionário até tornar-se um quadro recorrente. 

3. Depressão 

A depressão é um dos transtornos de humor mais conhecidos, a OMS estima que no Brasil quase de 6% da população tem um diagnóstico depressivo. Ela pode ser classificada entre os graus leve, moderado e grave e varia em tipos e sintomas. 

Listamos os dois tipos mais comuns, abaixo:

3.1 Transtorno depressivo maior/Depressão clássica

Os principais sintomas são: humor deprimido, falta de interesse e prazer por atividades que antes eram prazerosas, energia reduzida, sofrimento e incapacidade temporária de realização de certas atividades.

3.2 Transtorno depressivo persistente 

Depressão crônica com duração superior a dois anos, grau moderado. O portador fica predominantemente triste, desanimado, pessimista e com pouca energia e concentração. 

Este tipo é menos percebido como um transtorno, já que pela sua longa duração o círculo de pessoas do doente atribui os sintomas como características da personalidade do indivíduo. O que dificulta diagnóstico e tratamento.

Independente do transtorno de saúde mental que um colaborador venha a apresentar sinais, o RH deve indicar acompanhamento médico e psicológico. Caso a empresa tenha ambulatório, o auxílio em casos de crise pode ser prestado no ambiente de trabalho.

As doenças mentais, apesar de mais abordadas em campanhas como o Setembro Amarelo, ainda sofrem muito estigma. Em vista disso, ao tratar de um caso interno, garanta confidencialidade para que o colaborador sinta-se seguro e não julgado. 

Como o RH deve abordar a saúde mental 

Boas práticas de saúde mental devem ser pauta o ano inteiro, não apenas em Setembro, pois como já falamos transtornos mentais causam sofrimento ao colaborador e impactam negativamente no trabalho realizado. Além de comumente serem agravados ou desencadeados no trabalho. 

Programas que promovam o bem-estar

Na pesquisa Saúde mental no trabalho , a ginástica laboral foi apontada como um benefício de saúde física e mental. Vista como um breve momento de descontração que melhora as relações de trabalho. 

Parcerias e planos com sites que oferecem psicoterapia, são uma opção de tornar mais acessível o tratamento com psicólogos.

Ainda, benefícios em saúde como planos de saúde ou subsídios, proporcionam acesso à médicos e exames aos colaboradores, para tratamentos de saúde física e psíquica. Na medida em que saúde física e mental estão bastante conectadas.

Entram nessa categoria os benefícios para prática de esportes e os benefícios flexíveis, desde que tenham saldo livre que pode ser usado para custear exercícios físicos com profissionais especializados.

Tratativa padrão para casos de assédio e bullying  

Sofrer assédio moral e/ou bullying afeta a autoestima e a autoconfiança do colaborador. Ademais, tornam o ambiente de trabalho inseguro, causando mal estar. Por isso, o RH deve estar preparado para lidar com os casos e ter uma tratativa padrão que seja do conhecimento de toda a empresa.

Saber da existência de um procedimento para tratar situações de assédio e bullying  e que denunciar é seguro, já diminui significativamente o impacto negativo da violência sofrida.

O primeiro passo é ter um canal anônimo de denúncias. A partir de então, a psicóloga organizacional Glaice Martins, indica: Primeiramente será feita uma conversa individual com as pessoas envolvidas para entender o caso. Caso a conversa não for suficiente para reprimir o comportamento inadequado poderá ser aplicada uma advertência verbal. Em caso de nenhuma das ações anteriores serem suficientes, é indicada a demissão ou troca de setor dos envolvidos, afastando, assim, a vítima do agressor.

Importante que esse espaço sempre seja seguro e que tudo mantenha-se no anonimato para evitar constrangimentos aos envolvidos. 

Caso o RH da empresa que você trabalha ainda não tenha uma trativa padrão, criá-la e divulgá-la é um grande passo para promoção da saúde mental na corporação.

Políticas de feedback e desenvolvimento da carreira

Fazer com que o funcionário sinta-se valorizado e entenda seus pontos positivos e de melhoria, melhora a satisfação com o ambiente de trabalho. Contribui para um ambiente saudável e de crescimento constante, sem suposições e competitividade exagerada entre os colegas.

O feedback deve ser periódico e resultar em planos de ação, o que fazer a partir daquele momento evita uma crítica negativa e paralisante.

Planos de desenvolvimento de carreira mostram a progressão do colaborador e deixam explícitas as competências necessárias para crescer na empresa, e indicam o que o funcionário deverá fazer para alcançá-las.

 Ter conhecimento da perspectiva futura da carreira na empresa ajuda a criar um vínculo positivo entre empresa e colaborador, também dá segurança e previsibilidade no dia-a-dia. Aspectos que auxiliam pessoas com transtornos ansiosos.

Metas e prazos realistas

Metas e prazos impossíveis de serem cumpridos irão apenas gerar tensão, estresse e conflitos entre a equipe. Trabalhar com metas e prazos realistas, mesmo que desafiadores mas que sejam possíveis de serem cumpridos traz estímulo ao time.

Uma vez que batem uma meta no prazo estipulado, sentem-se motivados a continuarem crescendo. Sempre em um ritmo saudável. 

Saiba como definir metas SMART– Específicas, atingíveis, realistas e temporais e veja seus processos tornarem-se mais ágeis e motivadores.

Treinamentos dos gestores

Estar em um cargo de gerência não torna o gestor um líder nato. Liderar e gerenciar equipes demanda habilidades interpessoais capazes de serem aprendidas. 

Treinar os gestores para exercerem seu papel evita uma comunicação interna ineficiente, feedbacks mal elaborados aos liderados, situações de abuso de poder, entre outras.

Por isso, tanto quanto aprender uma área de conhecimento e dominar o negócio é fundamental desenvolver habilidades de liderança, a fim de garantir harmonia entre a equipe e no relacionamento entre liderança e liderado. 

Como fazer uma boa campanha de setembro amarelo 

Todas as práticas que tratamos até aqui foram propostas de mudanças no ambiente corporativo a fim de torná-lo mais saudável e menos propenso ao agravamento e/ou desenvolvimento de transtornos mentais.

Contudo, entender o porquê destas ações incentiva colocá-las de fato em prática. Neste sentido, as campanhas de conscientização como o setembro amarelo exercem a função de educar sobre saúde mental.

Como surgiu o setembro amarelo

O setembro amarelo remete ao dia mundial de prevenção ao suícidio, dia 10 de setembro, instituído desde 2003. 

A origem é nos EUA, em 1994 um jovem americano cometeu suicídio. O rapaz havia restaurado o automóvel Mustang 68 e refeito a pintura com amarelo. A associação da cor Amarela ao mês é devido a este caso. 

No Brasil, o setembro amarelo foi adotado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

Qual o objetivo da campanha do setembro amarelo

A Campanha pretende conscientizar as pessoas acerca do suicídio. A fim de prevenir novos casos, instruir terceiros há como identificar quando uma pessoa precisa de ajuda e incentivar as buscas por ajuda.

Apesar de ter sido criada com foco na prevenção ao suícido, Setembro Amarelo tornou-se uma campanha sobre saúde mental de forma ampla. Abordar saúde mental além de evitar novos casos de sucídio pretende melhorar a qualidade de vida das pessoas com transtornos e quebrar estigmas preconceituosos.

Atenção! Acolhimento de pessoas em sofrimento psíquico e/ou com intenção suicida deve ser feito por profissionais especializados. Para ligar ao CVV basta teclar 188, no serviço por telefone são feitos atendimentos emergenciais.

Quais temas e formatos abordar na empresa na campanha de Setembro Amarelo

Neste tópico listamos algumas sugestões de ações para conscientização em saúde mental focadas no ambiente corporativo.

  1. Promover palestras com profissionais da saúde mental a fim de desestigmatizar os transtornos mentais e esclarecer sintomas mais comuns e como prestar auxílio;
  2. Divulgar o número de telefone do CVV, plataformas de psicologia e profissionais que atendem por valor social como forma de apresentar recursos acessíveis a aqueles que buscam ajuda;
  3. Murais, cartazes e vídeos conscientizando sobre os principais sintomas que indicam um quadro depressivo, ansioso e outros. Com o objetivo de compreensão dos comportamentos atrelados aos transtornos, a fim de ajudar a auto identificação de quem sofre, e facilitar o entendimento de que precisa buscar ajuda. 

Conclusão

Cuidar da saúde mental nas empresas ultrapassa o setembro amarelo e o aspecto de conscientização. É necessário criar um ambiente de trabalho saudável que promova o bem estar ativamente.

Para isso, ações como a ginástica laboral e treinamento dos gestores são importantes. E ainda a tratativa de casos de assédio e bullying e  valorização do colaborador .

A campanha do setembro amarelo é um momento de olhar com mais atenção para a saúde mental, contudo saúde mental no trabalho deve ser tema o ano inteiro.

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